Uma patologia cultural da modernidade: Freud e o “doutor” Dostoiévski

Autores

  • Mariana Lins Costa Universidade Federal da Bahia (UFBA)

DOI:

https://doi.org/10.59539/2175-2834-v19n1-246

Palavras-chave:

Freud; Dostoiévski; modernidade; Supereu; Supereu da cultura.

Resumo

No antepenúltimo parágrafo de “O mal-estar na civilização”, Freud sugere que, apesar de todas as dificuldades, poderíamos esperar que um dia alguém se aventurasse na elaboração de uma patologia das comunidades culturais. Embora Freud considerasse Dostoiévski como um artista que em estatura não estaria muito atrás do próprio Shakespeare e cujo romance Os irmãos Karamázov seria o mais formidável romance jamais escrito, para ele, dada a severidade da patologia psíquica desse escritor, a humanidade pouco lhe teria a agradecer: ao invés de mestre libertador da humanidade, Dostoiévski teria tomado partido dos seus opressores. No presente artigo, pretendemos investigar o motivo da generalização das doenças psíquicas no universo dostoiévskiano e sugerir, valendo-nos da terminologia freudiana, que justamente o russo, demasiadamente russo Dostoiévski, seria aquele que, como desejara Freud, elaborou a patologia cultural característica à modernidade.

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Publicado

2017-07-01 — Atualizado em 2017-07-01

Edição

Seção

Artigos de fluxo contínuo