The objectification of human phenomena: observations in the light of Winnicott and Heidegger /A objetificação dos fenômenos humanos: um olhar à luz de Winnicott e Heidegger
Abstract
AbstractIn The Age of the World Picture, philosopher Martin Heidegger claims that scientific representations do not reduce themselves to pure appropriations of what they present. Rather, they convey investigations that confine being to rules of appropriation. Those rules govern how natural science accesses phenomena. The choice of natural science as the predominant mode of representation of reality entails what Heidegger calls a process of objectification (Vergegenständlichung). In his Zollikon Seminars, Heidegger questions the tribute paid by the sciences of the mind to the logic of the natural sciences, and stresses that Freud, by thinking of the mind as a machine driven by instinctive powers, assigns to human phenomena the objective features set by the natural sciences. This paper purports to show that Winnicott, by formulating a theory of personal maturing, disagrees with the objectifying requirements of the natural sciences. For Winnicott, traditional psychoanalysis uses categories that are inadequate for describing the changes babies undergo in the environment that gives them care and attention, because its analysis is confined to the field of libido relations. With that in mind, it is not possible to speak about human maturation processes using an objectifying language; Winnicott stresses (in The newborn and his mother) that “I cannot sacrifice a patient on the altar of science”. This paper argues that Winnicott disagrees with the naturalistic imperative, which reduces the real to what is objective and places physics as a model for the sciences. The paper also broaches on the issue of how far the considerations of Heidegger and Winnicott regarding access to human phenomena allow us to discuss the current overwhelming process of medicating everyday life. 1 Holds a Bachelor of Psychology of the Federal University of São João del-Rei (1997), a MA in Philosophy of the Federal University of Paraíba (2000) and a PhD of Philosophy of the UNICAMP (2008), supervised by Professor Dr. Zeljko Loparic. She is Professor of the State University of Feira de Santana- Bahia-Brazil. This article refers to an updated version of the same title of lecture at the XX Colóquio Internacional Winnicott and I International Winnicott Association (IWA) Congress. Key-words: objectification, Heidegger, WinnicottResumo: No texto A época das imagens de mundo o filósofo Martin Heidegger nos indica que a representação científica não se reduz a uma mera apreensão do que se apresenta, ao invés, equivale a uma investigação que faz com que o ente se domestique às regras de apreensão, posto que “o ataque das regras domina”. Estas regras governam o modo como a ciência natural deve acessar os fenômenos. O que está implicado na eleição da representação científico-natural como índice hegemônico de acesso ao real é a execução do que Heidegger denomina de processo de objetificação (Vergegenständlichung). Na obra Seminários de Zollikon, o filósofo problematiza o tributo que as ciências dos fenômenos psíquicos pagam à lógica da pesquisa científico-natural e afirma que Freud, ao pensar o psiquismo como um aparelho regido por forças pulsionais, destina aos fenômenos humanos pretensões de objetividade afinadas às ciências da natureza. Com esse trabalho pretendemos indicar que Winnicott, ao formular a teoria do amadurecimento pessoal, não faz coro às pretensões objetificantes da ciência natural. Para Winnicott, a psicanálise tradicional serve-se de categorias que são incapazes de descrever as trocas que se estabelecem entre um bebê e o ambiente que lhe provê cuidados, afinal, reduz sua análise ao campo das relações libidinais. Posto que não é possível versar sobre o amadurecer humano munido com uma semântica que segue padrões objetificantes Winnicott, no texto O recém-nascido e sua mãe, afirma: “não posso sacrificar um paciente sobre o altar da ciência”. Visamos, com esse artigo, indicar que Winnicott não faz coro ao imperativo naturalista que reduz o real ao objetificável e estabelece a física como a ciência emblemática. Pleiteamos, ainda, tematizar o quanto as ponderações de Heidegger e Winnicott em relação ao acesso aos fenômenos humanos nos permitem discutir o contemporâneo e avassalador processo de medicalização do cotidiano. Palavras-chave: objetificação, Heidegger, WinnicottReferences
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