Merleau-Ponty e a aceitação da hipótese do inconsciente enquanto temporalidade
Resumen
Este artigo tem como objetivo apresentar as críticas de Merleau-Ponty em relação àpsicanálise e indicar uma mudança substantiva de seus posicionamentos referentes a ela ao longoda década de 1940. Procuraremos mostrar que, em primeiro lugar, a psicanálise permaneceu paraele como uma metafísica da existência humana – inspirada em larga medida pela influência dostrabalhos de Politzer –, e o inconsciente, em vez de fornecer o material para a descrição docomportamento em geral, poderia somente iluminar as formações da anomia psíquica. Em suaobra seguinte, Fenomenologia da percepção, ao reconhecer a ideia de temporalidade presente nasmeditações husserlianas acerca da retenção intencional, Merleau-Ponty é capaz de caracterizar apsicanálise como uma condição de descrição do conjunto dos impasses da vida cotidiana, paraalém do aspecto patológico. O inconsciente passa a ser, portanto, a expressão de uma função maisprimordial: a do tempo. Finalmente, destacamos brevemente algumas críticas direcionadas àinterpretação merleau-pontyana do inconsciente, por consistir em uma abordagem que procuratratá-lo a partir de uma apropriação racional, dando à descoberta de Freud um lugar definido emuma teoria da totalidade das funções psíquicasCitas
Ayounch, T. (2012). Merleau-Ponty e a psicanálise: da fenomenologia da afetividade à figurabilidade do afeto. Jornal de Psicanálise, 45(83), 173-190.
Bimbenet, E. (2011). L’animal que ne suis plus. Paris: Gallimard.
Canguilhem, G. (2012). Estudos de história e de filosofia das ciências: concernentes aos vivos e à vida. Rio de Janeiro: Forense Universitária.
Dorfman, E. (2007). Réapprendre à voir le monde: Merleau-Ponty face au miroir
lacanien. Dordrecht: Springer.
Foucault, M. (2007). As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas.
São Paulo: Martins Fontes.
Fuchs, T. (2012). Body Memory and the Unconscious. In D. Lohmar & J. Brudzinska
(Eds.), Founding Psychoanalysis Phenomenologically. Dordrecht: Springer.
Furlan, R. (1998). Introdução à filosofia de Merleau-Ponty: contrapontos com Freud e
Wittgenstein. Tese de doutorado, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP,
Brasil.
Husserl, E. (1994). Lições para uma fenomenologia da consciência interna do tempo. Lisboa: Imprensa Nacional Casa da Moeda.
Husserl, E. (2001). Analyses Concerning Passive and Active Synthesis. Nova York: Kluwer Academic Publishers.
Kant, I. (2001). Crítica da razão pura (5a ed.). Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian.
Lacan, J. (1961). Merleau-Ponty in memoriam. Les Temps Modernes, 17(1), 245-254.
Merleau-Ponty, M. (1973). Ciências do homem e fenomenologia. São Paulo: Saraiva.
Merleau-Ponty, M. (1976). Phénoménologie de la perception. Paris: Gallimard.
Merleau-Ponty, M. (1991). A linguagem indireta e as vozes do silêncio. In MerleauPonty, Signos. São Paulo: Martins Fontes.
Merleau-Ponty, M. (1995). La Nature: notes cours Collège de France. Paris: Éditions du Seuil.
Merleau-Ponty, M. (2004). Conversas – 1948. São Paulo: Martins Fontes.
Merleau-Ponty, M. (2006a). A estrutura do comportamento. São Paulo: Martins Fontes.
Merleau-Ponty, M. (2006b). Fenomenologia da percepção. São Paulo: Martins Fontes.
Politzer, G. (1998). Crítica dos fundamentos da psicologia: psicologia e psicanálise.
Piracicaba: Unimep.
Pontalis, J.-B. (1965). La position du problème de l’inconsciente chez Merleau-Ponty. In J.-B. Pontalis, Après Freud. Paris: Julliard.
Ricœur, P. (1989). Do texto à ação: ensaios de hermenêutica II. Porto: Rés.
Ricœur, P. (1997). Tempo e narrativa (tomo III). Campinas: Papirus.
Steinbock, A. J. (1998). Husserl’s static and genetic phenomenology: Translator’s introduction to two essays. Continental Philosophy Review, 31, 127-134.
Žižek, S. (2013). Menos que nada: Hegel e a sombra do materialismo dialético. São Paulo: Boitempo