Anti-humanismo e humanismo: Descartes sob a mira de Heidegger e Sartre

Autores

  • Gustavo Fujiwara Universidade Federal de São Paulo

Resumo

Este artigo pretende restituir a leitura que Heidegger e Sartre realizam da filosofia de Descartes desvelando, a partir disso, as diferentes posições interpretativas que ambos os filósofos tomam em relação ao pensamento cartesiano. Observar-se-á que o tratamento dado por Heidegger à metafísica cartesiana explicita um anti-humanismo contrário ao humanismo sartreano. A partir desta diferença, seremos capazes de assinalar um distanciamento teórico entre Heidegger e Sartre, distanciamento que poderá nos revelar, por conseguinte, um possível deslize interpretativo por parte de Sartre quando de sua utilização do pensamento heideggeriano em suas obras. 

Biografia do Autor

Gustavo Fujiwara, Universidade Federal de São Paulo

Doutorando em Filosofia Francesa Contemporânea pela Unifesp

Referências

"com a metafísica se consuma uma reflexão sobre a essência do ente e uma decisão sobre a essência da verdade” (HEIDEGGER, 2014, p. 1)

“este fundamento governa todas as manifestações que caracterizam uma época” (HEIDEGGER, 20014, p. 1)

Uma vez que a física moderna é essencialmente matemática, e apenas por esta razão, ela também pode ser experimental. Uma vez que nem a doctrina medieval, nem a epistéme grega são ciências, no sentido da pesquisa, elas nunca chegam a ser experimentais. (...) Preparar e estabelecer um experimento significa representar uma condição de acordo com a qual um sistema específico de movimentos pode ser acompanhado na necessidade de seu decurso, de tal forma que o sistema pode ser dominado de antemão pela calculação. (...) O experimento é o método cujo planejamento e execução são sustentados e conduzidos por uma lei tomada por base, para que os fatos possam comprar a lei ou negar-lhe a confirmação. (HEIDEGGER, 2013, p. 4)

A representação não é mais uma forma do desencobrir-se para...; agora ela é um capturar e conceber....O presente não tem mais a primazia, senão o ataque. De acordo com a nova liberdade, o representar é, agora, um penetrar no âmbito do assegurado que previamente já se assegurou de si mesmo. O ente não é mais o presente; melhor dizendo, é o postulado em contraposição ao representar através do próprio representar: o posto-diante, ob-jeto. Re-presentar é o ato objetivante que antecede, investiga e domina. O representar empurra tudo para a unidade do que é objetivado em conjunto. A representação é coagitatio. (HEIDEGGER, 2013, p. 18)

(...) posso sentir, ao me examinar, que a intelecção não é o resultado mecânico de um procedimento de pedagogia, mas tem por origem tão-somente minha vontade de atenção, tão-somente minha concentração, tão-somente minha recusa da distração ou da precipitação e, por fim, meu espírito inteiro, na radical exclusão de todos os atores externos. (SARTRE, 2005, p. 286)

Quanto às verdades eternas, digo ainda uma vez que elas só são verdadeiras ou possíveis porque Deus as conhece como verdadeiras ou possíveis e porque não são, ao contrário, conhecidas como verdadeiras por Deus como se fossem verdadeiras independentemente dele. (DESCARTES, Apud. SARTRE, 2005, p. 298)

“O Deus cartesiano não é inclinado, como o Deus de Leibniz, a escolher, por complexo cálculo, o que é melhor, mas, ao contrário, é graças ao que ele decidiu, por efeito apenas de sua decisão, que o absolutamente bom vem ao mundo. A liberdade não é limitada por nenhuma essência eterna, por nenhuma estrutura necessária do ser. É a liberdade divina, ao contrário, que sustenta tal estrutura, tais essências. Essa liberdade é, assim, o fundamento do ser, a sua dimensão secreta.” (MOUTINHO, 2003, p. 117).

“Do ponto de vista filosófico, a metáfora da representação é utilizada para significar que o ente é interpretado como um espetáculo dado a um espectador; e aquilo que é assim dado em espetáculo, desempenha o papel de um substituto da realidade. Mas o espectador, na ocorrência, é de certa forma desvanecente: não é um ente ao lado dos outros, mas um puro olhar. Esse puro olhar, esse puro espectador, é o que a filosofia moderna chamou de ‘sujeito’. (...) A realidade se esgota no fato de ser para um sujeito; o ente é constituído em objeto e interpretado como tal”. (LADRIÈRE, s/d, p. 19).

Publicado

2016-01-26

Como Citar

Fujiwara, G. (2016). Anti-humanismo e humanismo: Descartes sob a mira de Heidegger e Sartre. Natureza Humana - Revista Internacional De Filosofia E Psicanálise, 16(2). Recuperado de https://revistas.dwwe.com.br/index.php/NH/article/view/47

Edição

Seção

Artigos