Natureza Humana - Revista Internacional de Filosofia e Psicanálise
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<p>A Revista Natureza Humana (Qualis A3) publica trabalhos relacionados à fundamentação das teorias e das práticas psicoterápicas. As obras de Martin Heidegger e Donald W. Winnicott são tomadas como pontos de referência centrais, mas não exclusivos.</p> <p>A escolha desses dois autores repousa em razões sólidas. O primeiro é considerado, há tempo, um dos maiores filósofos do século, e o segundo vem recebendo crescente reconhecimento como o mais original psicanalista desde Freud. Além disso, ambos os autores lançaram pontes entre a filosofia e a psicoterapia. Heidegger dedicou – como se vê nos famosos Seminários de Zollikon – um esforço extraordinário à discussão da psicanálise freudiana e à tentativa de elaborar um projeto filosófico de patologia e terapia, sem perder de vista as descobertas científicas da psicanálise. Um dos nossos objetivos será resgatar esse projeto daseinsanalítico, ainda muito pouco conhecido, na tentativa de decidir, por meio de trabalhos ao mesmo tempo teóricos e clínicos, se ele tem o poder de constituir parte de uma nova tradição de pesquisa científica na psicoterapia e na medicina em geral, conforme foi antecipado e desejado por Heidegger.</p> <p>Por outro lado, trata-se de acompanhar Winnicott na sua tentativa de iniciar, apoiado em sua extensa experiência clínica, uma nova tradição de pesquisa e de clínica dentro da psicanálise. É à filosofia que Winnicott deve, como reconheceu em várias oportunidades, a coragem de proceder, passo a passo, na direção de uma melhor compreensão da natureza humana, livre de laços de lealdade pessoal com os fundadores da psicanálise tradicional. Resultou desse processo uma psicanálise renovada, centrada no problema de crescimento pessoal e não mais no de Édipo, e livre da herança metafísica das forças pulsionais que tanto pesa sobre a metapsicologia de Freud.</p> <p>ISSN 2175-2834 [Qualis CAPES A3]</p>pt-BR[email protected] (Editores)[email protected] (DWWeditorial)Wed, 07 May 2025 00:00:00 -0300OJS 3.3.0.13http://blogs.law.harvard.edu/tech/rss60O poder como subjetividade: a tecnologia e as novas exigências da responsabilidade
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<p><span style="font-weight: 400;">O presente artigo pretende demonstrar como, para Hans Jonas, o poder se constituiu, na modernidade, como um elemento central da subjetividade humana, fato que se efetiva na caracterização da nossa como uma civilização tecnológica, principalmente no que diz respeito à pretensa reforma do ser humano, tal como ela se tornou o elemento central do projeto melhorista e transhumanista. A partir daí, demonstraremos como Jonas substitui o </span><em><span style="font-weight: 400;">poder</span></em><span style="font-weight: 400;"> pela </span><em><span style="font-weight: 400;">responsabilidade</span></em><span style="font-weight: 400;">, para efetivá-la como elemento subjetivo central, quando associada à ideia de autenticidade da vida humana. Abordar as exigências éticas ligadas à responsabilidade presentes no avanço dos poderes tecnológicos, portanto, significa também levar em conta os seus impactos sobre os processos de subjetivação que, em última instância, estão ligados à própria ideia de uma “natureza” - ou “condição” - humana.</span></p>Jelson R. de Oliveira, Grégori de Souza, Lucas Miguel Bugalski
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https://revistas.dwwe.com.br:443/index.php/NH/article/view/1095Mon, 18 Aug 2025 00:00:00 -0300Podemos, mas devemos? Ou do dever do poder segundo Hans Jonas
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<p><span style="font-weight: 400;">Hans Jonas nos oferece uma análise filosófica que lança luz sobre o modo desenfreado do desenvolvimento tecnológico moderno. Para ele, a técnica moderna é uma forma de agir ambígua, coletiva, cumulativa e temporalmente ampla, por isso, não pode mais gozar da neutralidade moral da qual se inseria a antiga interação da técnica com a matéria. Mas o iluminismo científico caminha justamente nessa direção equívoca da neutralização da natureza (e do homem) sob o aspecto do valor, tornando-a um objeto sempre disponível ao interesse presente. Por isso, diante do dilema imposto entre o “poder e o dever” implicados no desenvolvimento de novas tecnologias, propomos uma leitura do </span><em><span style="font-weight: 400;">princípio responsabilidade</span></em><span style="font-weight: 400;">, recolocando o </span><em><span style="font-weight: 400;">poder</span></em><span style="font-weight: 400;"> como um conceito chave para caracterizar a responsabilidade no pensamento de Hans Jonas enquanto princípio ético aplicável na esfera política.</span></p>Angela Maria Michelis, Lenise Moura Fé de Almeida
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https://revistas.dwwe.com.br:443/index.php/NH/article/view/1096Mon, 18 Aug 2025 00:00:00 -0300Fake news: um recurso de colonização por excelência
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<p>Com este artigo, pretende-se refletir sobre uma abordagem crítica de Frantz Fanon a respeito da tecnologia, tomando como base o texto <em>Ici la voix d’Algérie</em>, de 1959. Nesta crítica, Fanon nos permite associar o projeto colonizador com a difusão de ideias deturpadas acerca das populações originárias dos territórios invadidos durante as investidas coloniais. Para realizar essa reflexão, propomos um encaminhamento metodológico dividido em quatro partes. A primeira parte tem como objetivo contextualizar a obra que escolhemos como referência principal neste artigo. Na segunda parte, nosso enfoque é voltado para o papel da linguagem no estabelecimento da colonização, cumprindo com a função de realizar um apagamento histórico das contribuições do povo autóctone. Na terceira parte, destacaremos como o povo argelino se apropriou de recursos tecnológicos da cultura estrangeira, para o processo de libertação em relação à colônia francesa. Por fim, buscamos relacionar o contexto colonial observado por Fanon, na Argélia, com o contexto do Brasil, na relação entre colonizadores e povos originários. Com essa reflexão, compreendemos como mecanismos de apagamento de culturas e expressões populares, estão associadas a essa estratégia colonialista de dominação. Desse modo podemos relacionar o problema contemporâneo das Fake News com os recursos coloniais de deturpação e apagamento.</p>Francisco Verardi Bocca, Jeferson da Costa Vaz
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https://revistas.dwwe.com.br:443/index.php/NH/article/view/1091Mon, 18 Aug 2025 00:00:00 -0300Para não sermos nem vítimas, nem carrascos: Albert Camus e a medida da justiça
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<p>A polêmica disputa entre Albert Camus e Jean-Paul Sartre, situada no início dos anos 1950, ganhou os holofotes dos meios acadêmicos franceses de sua época. O cerne da discussão, conhecida por ter sido o motivo do rompimento da amizade entre os dois autores, girava em torno dos limites e das justificativas da violência como forma de ação política. Enquanto Sartre e outros pensadores de seu ciclo optavam por justificar, ou ao menos não denunciar, parte da ação violenta de um governo ou de um grupo em nome dos fins que defendiam, Camus não aceitava o terror, mesmo que reconhecesse sua inevitabilidade. O presente estudo, almejando ir além da polêmica Camus-Sartre, busca resgatar, em uma interpretação mais abrangente da obra camusiana, as bases de seu pensamento político. Para tanto, utiliza-se não apenas seu ensaio <em>O Homem Revoltado</em>, pivô daquela polêmica, mas, também, suas peças de teatro, como <em>Os Justos,</em> e seus artigos publicados na coletânea <em>Actuelles</em> (“Atuais”). Busca-se, ainda, sugerir uma chave interpretativa para o pensamento político camusiano a partir de uma espécie de “princípio solidariedade”, que consiste em centralizar a solidariedade como força motriz da ação política, superando o problema da inevitabilidade do terror. Por fim, explora-se, a partir da ideia de “economia da utopia” as reflexões camusianas acerca das utopias, que discutem seu preço e buscam ressignificá-las.</p>Giovanni Henrique Tremea
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https://revistas.dwwe.com.br:443/index.php/NH/article/view/1103Mon, 18 Aug 2025 00:00:00 -0300O entrelaçamento da liberdade e do cuidado: a antipsiquiatria em busca de uma justiça social
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<p>Este trabalho explora a crítica radical à psiquiatria tradicional sob a perspectiva da antipsiquiatria, evidenciando como essa prática, frequentemente percebida como tratamento de doenças mentais, pode ser vista como um instrumento de injustiça social. A psiquiatria, historicamente, contribuiu para a exclusão e marginalização de indivíduos considerados "anormais", fazendo valer normas sociais e perpetuando o controle sobre aqueles que não se ajustam às expectativas econômicas e sociais do sistema capitalista. Em interlocução com Michel Foucault, Ronald D. Laing, David Cooper, e Jean-Paul Sartre, este texto argumenta que a psiquiatria funciona como um mecanismo de silenciamento e normalização, desumanizando os pacientes ao reduzi-los a meros sintomas de uma doença mental e negando-lhes a subjetividade e dignidade. Em contrapartida, a antipsiquiatria surge em resposta ao manejo da loucura, propondo uma justiça social capaz de reconhecer o valor e a significância das experiências dos nomeados loucos. Desafiando as normas sociais e os estigmas impostos pela psiquiatria hegemônica, a antipsiquiatria promove uma inclusão mais ampla e uma compreensão mais profunda da condição humana. A abordagem politizada da saúde mental, que enfatiza a solidariedade, a camaradagem e a empatia, vão além de uma perspectiva curativa individual e sim, tocam numa transformação social, rompendo com as relações de poder que perpetuam a opressão e alienação no tratamento psiquiátrico tradicional.</p>Thaís de Sá Oliveira
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https://revistas.dwwe.com.br:443/index.php/NH/article/view/1093Mon, 18 Aug 2025 00:00:00 -0300La giustizia in armi: il ritorno del bellum justum e le sfide etiche dei conflitti
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<p>L'articolo esamina il ritorno della dottrina del <em>bellum justum</em> (guerra giusta) nel contesto moderno, con un focus sulla proposta teorica di Michael Walzer. Walzer sostiene che alcune guerre possono essere moralmente giustificate se condotte per difendere i diritti umani e ristabilire la giustizia, e questo approccio si contrappone alla logica emersa dopo i conflitti mondiali del <em>jus contra bellum</em>, che promuove il divieto assoluto della guerra, tranne in casi di legittima difesa. Viene esplorato il dilemma etico legato all'universalismo interventista americano, nel momento in cui gli interventi militari promossi per esportare la democrazia sollevano dubbi sulla sovranità nazionale e il rischio di egemonia culturale occidentale applicato a tutto il globo. L'articolo valuta come il ritorno del <em>bellum justum</em> possa diventare una giustificazione problematica per interventi unilaterali, suscitando critiche sulla legittimità di un ordine globale fondato su valori occidentali.</p>Marcello Boemio
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https://revistas.dwwe.com.br:443/index.php/NH/article/view/1097Mon, 18 Aug 2025 00:00:00 -0300A solidariedade intergeracional como fundamento da teoria do dano ambiental futuro
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<p>A mudança do comportamento ético acerca da relação entre as pessoas e o meio ambiente natural é exigência do antropoceno. Uma ética ambiental centrada no antropocentrismo não atende à demanda da emergência climática, sendo imperioso que a solidariedade relacionada às questões ambientais seja intrageracional, intergeracional, e interespécies. Assim, é inaceitável a prática de degradação ambiental por ação humana, porque o dano ambiental compromete o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, cuja preservação cabe tanto ao Estado quanto à coletividade, e deve ser assegurado não só às presentes, mas também às futuras gerações. É a preservação que deve permear a proteção ambiental, e pela prevenção e pela precaução, atende-se às exigências do biocentrismo, ética ambiental que considera importantes todas as formas de vida na terra. Assim, o problema da pesquisa envolve, considerando o princípio da solidariedade concernente ao direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, qual sua relevância à teoria do dano ambiental futuro. Os objetivos são conceituar o princípio da solidariedade, definir dano ambiental e correlacioná-lo à sociedade do risco, como esforço para apontar sua relevância para a teoria do dano ambiental futuro. A metodologia é dialética e a técnica é bibliográfica. Os resultados apontam que, na sociedade do risco, as consequências de um dano ambiental protraem-se no tempo, não sendo suficiente a resolução da responsabilidade ambiental apenas pelo dano percebido objetivamente no momento de sua ocorrência, e a solidariedade intergeracional demanda evitar o dano ambiental no presente para a garantia do direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado às futuras gerações.</p>Sarah Francine Schreiner
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https://revistas.dwwe.com.br:443/index.php/NH/article/view/1092Mon, 18 Aug 2025 00:00:00 -0300Ética, Cuidado de Si e Parrésia: Um guia Foucaultiano para a auto-constituição do sujeito
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<p><span style="font-weight: 400;">Nas últimas décadas, a ética tem emergido como um tema central nas ciências humanas. As preocupações morais têm vindo a merecer destaque como resultado da desintegração da homogeneidade sociocultural da modernidade e a concomitante relativização de valores, moralidade e estilos de vida, o que, para muitos, constitui o cerne da condição pós-moderna. Neste contexto, têm ocorrido algumas tentativas notáveis, especialmente nas tradições pós-estruturalistas e pós-modernistas, para lidar com a dissolução de fundamentos - morais ou não – da contemporaneidade e enfrentar a situação de contingência radical e pluralismo ético que se apresenta a cada um de nós. Simultaneamente, as reflexões sobre a ética num contexto pós-estrutural e pós-moderno têm sido, em grande parte, casuais e esporádicas, em consonância com a sua renúncia à teoria sistemática e predileção por micronarrativas dispersas e conhecimentos locais/contingentes. No entanto, existe uma notável exceção: as obras tardias de Michel Foucault, que desenvolveu uma alternativa à ética moderna. Em essência, Foucault procura desafiar sistemas morais prescritivos, tendo como exemplo arquetípico o imperativo categórico de Kant, visto que esta tipologia de código moral funciona como instrumento de "normalização" do sujeito e de integração do mesmo no aparato de poder-saber. Em contraste, Foucault conceptualiza uma transgressão incessante e lúdica de limites propostos e estruturas normativas, assim como a contínua renovação do sujeito de acordo com critérios auto-estabelecidos, em detrimento de critérios impostos externamente. Ao adotar esta posição, Foucault pretende criar fraturas que potencializam um espaço de liberdade compreendido como um espaço de liberdade concreta, ou seja, de possível transformação do sujeito.</span></p>Tomás David Rocha Correia
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https://revistas.dwwe.com.br:443/index.php/NH/article/view/1099Mon, 18 Aug 2025 00:00:00 -0300Ideais contemporâneos, poder e subjetividade: a realidade humana frente às novas tecnologias digitais e a inflação do imaginário
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<p>O presente trabalho resgata o conceito de subjetividade que o existencialismo de Jean-Paul Sartre reivindica. Buscaremos configurar o desafio existencialista de tomar por objeto a subjetividade: as dificuldades próprias da busca por conhecer aquilo que, por definição, implica uma obscuridade de si — o não saber — e o ter-de-ser. Devemos articular a noção de subjetividade na conjuntura atual, entrelaçada pelas novas tecnologias digitais, o que configura uma situação peculiar para a realidade humana. Passaremos por alguns elementos dessa digitalização da vida, destacando aspectos envolvidos na utilização de novas tecnologias, como a aclamada inteligência artificial e seus desdobramentos no que chamamos de processo de inflação do imaginário na produção de formas de vida.</p>Thiago Wesley da Silva e Silva
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https://revistas.dwwe.com.br:443/index.php/NH/article/view/1102Mon, 18 Aug 2025 00:00:00 -0300Indicações para uma “Atitude Decolonial” na Psicoterapia Fenomenológico-Hermenêutica
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<p><span style="font-weight: 400;">O presente texto tem por objetivo elucidar alguns dos principais aspectos que constituem uma </span><span style="font-weight: 400;">“Atitude Decolonial” em Psicoterapia de base Fenomenológico-Hermenêutica. Dentre eles, estão a análise interseccional sobre o horizonte histórico de ambos, terapeuta e paciente; a realização de uma ética amorosa que vise ao crescimento espiritual, tal como descrito por bell hooks; a facilitação da narrativa em primeira pessoa; como destacado por Grada Kilomba e, por fim, a sustentação do pensamento meditante sobre o sentido da existência como recurso na lida com a angústia originária, como indicado por Martin Heidegger.</span></p>Thamiris Magalhães Iorio
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https://revistas.dwwe.com.br:443/index.php/NH/article/view/1094Mon, 18 Aug 2025 00:00:00 -0300P-P Verbeek: ética, ação política e mediação tecnológica
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<p>Este artigo, foi escrito a partir da comunicação que fizemos no V Colóquio Luso Brasileiro de Ética e Filosofia Política, e procura dar uma perspectiva do pensamento de Verbeek a respeito da ética e mediação tecnológica, baseada no ponto de vista da mediação descrita na ontologia inter-relacional pós-fenomenológica de Don Ihde e no conceito de “guião” (script), desenvolvido por Madeleine Akrich e Bruno Latour, em dois domínios, o do design e o da política. Procura, também, confrontar a posição de Verbeek com uma crítica à sua proposta de métodos de design de artefactos tecnológicos, por um lado, e à sua proposta para a acção política, por outro, e que resulta a nosso ver da sua posição ser demasiado intencionalista, apesar de se inscrever no quadro da posição pós-fenomenológica de Ihde. Por isso propomos que partindo da mediação tecnológica descrita por Verbeek, e atendendo à crítica feita, que se pense a questão ética e política a partir do pressuposto de que a sociedade é constituída por um conjunto de subsistemas sociais funcionalmente diferenciados, conforme a teoria dos sistemas sociais de Niklas Luhmann. Num primeiro ponto, trataremos do domínio da ética no <em>design</em> e desenvolvimento de artefactos tecnológicos enquanto estes levantam a questão da mediação. Para isso recorremos do artigo “Materializing Morality: Design, Ethics and Technological Mediation” (2006), um resumo da obra “What Things Do. Philosophical Reflections on Technology, Agency, and Design” (2005) sendo a sua posição sobre o tema exposta de forma mais vasta na sua obra “Moralizing Technology: Understanding and Designing the Morality of Things” (2011), de que o artigo em causa é parte. Num segundo ponto, trataremos da dimensão política recorrendo do artigo “Resistance Is Futile: Toward a Non-Modern Democratization of Technology” (2013). Por fim, num terceiro ponto, fazemos uma crítica da posição de Verbeek, colocando-nos no âmbito que não aquele que decorre das “intenções” da tecnologia, mas sugerindo o da teoria de Niklas Luhmann dos sistemas sociais, pois o estado atual do avanço tecnológico colocou a agência não-humana em pé de igualdade com a agência humana, podendo até haver uma situação assimétrica em que o ser humano é diminuído e a sua vida ser definida pelo sistema ou artefato tecnológico distinto que modificam as condições de liberdade e de responsabilidade ética (Herrera-Veja, 2025, pág. 12) e, a isso, nós acrescentamos, de acção política.</p>Bruno Espinha
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https://revistas.dwwe.com.br:443/index.php/NH/article/view/1101Mon, 18 Aug 2025 00:00:00 -0300A dimensão política dos riscos e danos decorridos do desenvolvimento tecnológico e a Bioética como campo de diálogo
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<p>A técnica ou tecnologia modifica o modo de ser e agir do ser humano. Por isso se torna objeto de estudo da filosofia. Sobre a questão ética, analisa-se a dimensão política dos riscos e danos decorridos do desenvolvimento tecnológico. Neste artigo, essa observação é dividida em duas categorias temáticas: Biotecnologias e Meio Ambiente. Em ambos os casos se conclui que as mesmas dinâmicas das relações de poder e vulnerabilidades já observadas na sociedade são refletidas e até amplificadas pelas consequências do desenvolvimento tecnológico. A fim de observar esse fenômeno multifacetário, a bioética enquanto campo de estudo inter e multidisciplinar, pode ser o campo de diálogo apropriado com tanto que se atente à fundamentação teórica oriunda da filosofia e das outras áreas de conhecimento.</p>Daniel Athanásio
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https://revistas.dwwe.com.br:443/index.php/NH/article/view/1100Mon, 18 Aug 2025 00:00:00 -0300A quinta essência da pobreza: das dificuldades epistemológicas à revisitação da teoria das capabilidades de Amartya Sen e Martha Nussbaum
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<p><span style="font-weight: 400;">Considerando a pobreza como um problema filosófico, político e epistemológico, o presente texto interroga as dificuldades na sua definição e medição. Para o efeito, centrar-nos-emos no pensamento de Amartya Sen e Martha Nussbaum, nomeadamente na sua abordagem das capabilidades que ampliam as considerações tradições sobre pobreza à privação das liberdades e circunstâncias fundamentais para uma vida digna, boa e justa. Na demanda de visibilidade e resolução, o fenómeno da pobreza enfrenta o dilema da representação: ao mesmo tempo que se procura dar voz às vítimas, cresce o risco de normalizar o problema como uma inevitabilidade ou mesmo de instrumentalizar pessoas concretas na qualidade de objetos de estudo e números. Cabe à filosofia política reconhecer a experiência vividas das pessoas afetadas, integrando as suas narrativas no estudo do problema para evitar a abstração que obscurece o sofrimento real. É na tentativa de não cair na abstração que juntaremos às reflexões de Sen e Nussbaum a parábola </span><em><span style="font-weight: 400;">Diante da Lei</span></em><span style="font-weight: 400;">, de Kafka, que ilustra em ato em que medida um sistema jurídico-político pode impedir o acesso às capabilidades.</span></p>Teresa Nunes
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https://revistas.dwwe.com.br:443/index.php/NH/article/view/1098Mon, 18 Aug 2025 00:00:00 -0300A arte e o espaço
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<p>Tradução do texto de Martin Heidegger, "A arte e o espaço".</p>Marcia Sá Cavalcante Schuback
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https://revistas.dwwe.com.br:443/index.php/NH/article/view/1107Thu, 14 Aug 2025 00:00:00 -0300Da governamentalização do corpo ao higienismo psíquico: uma arqueogenealogia de saberes especializados sobre a infância na Inglaterra (C. P Blacker e John Bowlby) entre 1946-1951
https://revistas.dwwe.com.br:443/index.php/NH/article/view/651
<p>O presente artigo versa sobre a história e filosofia de saberes especializados (eugenistas e psicanalíticos) sobre a infância após a Segunda Guerra na Inglaterra. Empreendeu-se um estudo conceitual (arqueogenealógico) de duas fontes primárias: o texto sobre as “famílias problema” do psiquiatra eugenista Carlos Blacker (1946) e o relatório encomendado pela OMS para o também psiquiatra (e psicanalista) John Bowlby (1951). O objetivo foi investigar as proposições de estudiosos do campo da infância sobre a transformação e massificação dos discursos relativos à infância em direção a uma psicologização durante esse período. Para tal, realizamos uma análise dos conceitos empregados por estes dois autores ao tratar da infância, mais particularmente do que é considerado cuidado inadequado, assim como da afiliação disciplinar destes. Em Blacker, a infância problema é conceitualmente definida como emergindo em contexto de falta moral, má hereditariedade e negligência de cuidados físicos. Em Bowlby, notamos aspectos qualitativos do cuidado como sensitividade e amor materno e os fatores de ordem econômica, social e hereditária são quase completamente obnubilados quando comparado à importância do desenvolvimento psíquico.</p>Kaira Neder
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https://revistas.dwwe.com.br:443/index.php/NH/article/view/651Wed, 07 May 2025 00:00:00 -0300Um diálogo Nietzsche Freud: aportes para o campo psicanalítico
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<p>A hipótese central deste trabalho é que trazer mais de Nietzsche para o campo psicanalítico pode ter consequências importantes não apenas no nível teórico, mas também no clínico. Seu objetivo principal é explorar o confronto e a articulação de elementos-chave das obras de Nietzsche e de Freud, analisando suas interseções, diferenças e complementaridades, buscando trazer possíveis contribuições para a teoria e a clínica psicanalíticas. Nessa perspectiva, se explora o confronto de suas construções teóricas sobre o inconsciente, aparelho psíquico, sujeito, pulsão, cultura, religião e moral, que parecem pontos de articulação importantes e promissores para tentar extrair lições e contribuições para a teoria e a clínica psicanalíticas. A intenção não é questionar a validade dos construtos teóricos e achados clínicos freudianos, mas desenvolver uma perspectiva mais ampla deles, sempre que possível.</p>Glauter Rocha
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https://revistas.dwwe.com.br:443/index.php/NH/article/view/644Wed, 07 May 2025 00:00:00 -0300A frágil identidade da senhora Vogler: notas winnicottianas a propósito do filme Persona, de Ingmar Bergman
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<p>Neste escrito, ofereço ao leitor um breve estudo da personagem Elisabeth Vogler, do filme <em>Persona</em>, de Ingmar Bergman. Com base na teoria winnicottiana acerca do falso self patológico, cindido do self verdadeiro, realizo uma leitura do que denomino o “monólogo da médica”, em que Bergman retrata, com bastante precisão, o estado psíquico da senhora Vogler. Assinalo, em tal leitura, a semelhança que parece existir entre, por um lado, a abordagem artística do cineasta sueco, e, por outro, a abordagem clínica e científica do psicanalista inglês, no que se refere aos mesmos aspectos da natureza humana.</p>Ricardo Telles de Deus
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https://revistas.dwwe.com.br:443/index.php/NH/article/view/1085Wed, 07 May 2025 00:00:00 -0300Ferenczi e a literatura - trauma e imaginação na clínica psicanalítica
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<p>Este artigo explora a relação entre a clínica psicanalítica do trauma e a imaginação. Trauma será definido, entre outras coisas, como a situação em que o sujeito perde o lugar de autor da própria história. Imaginação, por sua vez, será empregada como um conceito guarda-chuva que articula elementos teóricos da psicanálise e da filosofia para descrever uma forma de receber as produções do campo do traumático na clínica de modo a (re)construir a capacidade de falar de si perdida no trauma. No campo da psicanálise, a ideia de imaginação proposta neste trabalho se apoia nas noções de reconstrução e construção, empregadas, respectivamente, por Ferenczi e Freud como estratégias para manejar pacientes ditos difíceis. No âmbito da filosofia, a imaginação se inspira em uma proposição kantiana acerca da imaginação, bem como dialoga com as teorias da virtualidade, com base no pensamento de Gilles Deleuze, Félix Guattari, David Lapoujade e Pierre Lévy, a fim de reconhecer a eficácia terapêutica de modos expressivos diferentes (ainda que não excludentes) da linguagem verbal.</p>Bruno Cardoso Lages
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https://revistas.dwwe.com.br:443/index.php/NH/article/view/912Wed, 13 Aug 2025 00:00:00 -0300O Trieb freudiano – para além de Freud
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<p>Nos argumentos que fazem parte da querela tradutória em torno do <em>Trieb</em> freudiano, é muito comum que duas abordagens complementares sejam adotadas: de um lado, a discussão de aspectos etimológicos e semânticos da palavra alemã, e, de outro, a elaboração conceitual que Freud faz dela. Neste artigo, esboçamos um programa de pesquisa com uma outra diretriz: estudar o emprego do conceito de <em>Trieb</em> em textos não-freudianos, mas que direta ou indiretamente puderam influenciar a teorização de Freud; trata-se, portanto, de um estudo de matiz histórico-conceitual, e não apenas interno, do conceito. Com efeito, ao abrir seus <em>Três ensaios sobre a teoria da sexualidade,</em> Freud elenca uma série de autores nos quais se baseou para formular seus próprios raciocínios sobre o <em>Geschlechtstrieb</em>, e não em vão todos eles utilizam o mesmo termo. A pesquisa, ainda em estado incipiente, demonstra a pertença da teorização freudiana acerca do <em>Trieb</em> a um panorama científico muito mais amplo (abarcando a neurologia, a fisiologia, o evolucionismo, a sexologia, a reflexologia etc.), o que torna anacrônica a tradução do <em>Trieb</em> freudiano pelo quase-neologismo francês “pulsão”. Com isso, não se pretende <em>fechar</em> a discussão, mas sim<em> abri-la,</em> pois novas pesquisas são requeridas para enriquecer o debate.</p>Pedro Fernandez de Souza
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https://revistas.dwwe.com.br:443/index.php/NH/article/view/976Wed, 13 Aug 2025 00:00:00 -0300O sentido do ser e o ser-no-mundo: Heidegger a relação inerente entre mundo e sentido em Ser e tempo
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<p>Na leitura do §32 de <em>Ser e tempo</em>, compreendemos que o sentido não é uma propriedade que pode ser atribuída ao <em>Dasein</em>, mas constitui seu modo de ser. O sentido não é uma coisa articulada “dentro-do-mundo” ou algo restrito ao juízo. O sentido, compreendido de modo propriamente ontológico, não é o sentido ôntico disso ou daquilo ou o sentido de um juízo, mas o articular-se ontológico do ser que nós mesmos somos como ser-no-mundo. A estratégia para exibir a profundidade com que Heidegger apresenta o sentido em <em>Ser e tempo</em> será feita com base na distinção entre o sentido categorial e o sentido existencial que, muito mais amplo que o resultado de um ato judicativo, se articula na abertura de possibilidades do <em>Dasein</em> enquanto ser-no-mundo. Deste modo, evidenciamos a inseparabilidade entre as noções de sentido e mundo em <em>Ser e tempo. </em></p>Gabriel Gurae Guedes Paes
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https://revistas.dwwe.com.br:443/index.php/NH/article/view/649Thu, 14 Aug 2025 00:00:00 -0300Martin Heidegger e o neoplatonismo agostiniano
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<p>O artigo examina a duradoura influência que Agostinho de Hipona exerceu na obra de Martin Heidegger. No volume 60 da <em>Gesamtausgabe</em> heideggeriana (intitulado <em>Fenomenologia da Vida Religiosa</em>), o filósofo alemão trata do conceito agostiniano de <em>Curare</em> em articulação com os fenômenos da memoria e da tentatio, presentes na obra <em>Confissões</em>. Para Heidegger, os escritos de Agostinho servem como material hermenêutico para demonstrar como o surgimento de uma cosmovisão cristã, fundamentada no <em>Curare</em>, fornece uma imagem que permitirá a Heidegger operar a formulação do ‘cuidado’ (<em>Sorge</em>) enquanto existencial da presença (<em>Dasein</em>). Portanto, o intuito do artigo é demonstrar como o conceito de <em>Curare</em> serve como protótipo para o que, mais tarde, Heidegger denomina de <em>Sorge</em> em <em>Sein und Zeit.</em></p>Rodrigo Benevides
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https://revistas.dwwe.com.br:443/index.php/NH/article/view/833Tue, 19 Aug 2025 00:00:00 -0300Apresentação do Dossiê V Colóquio Luso-Brasileiro de Ética e Filosofia Política – Caminhos da Justiça: Diálogos Contemporâneos
https://revistas.dwwe.com.br:443/index.php/NH/article/view/1150
<p>O presente dossiê, generosamente acolhido pela Revista Natureza Humana, trata de um tema não apenas urgente, como central para o pensamento filosófico contemporâneo: a relação entre poder e justiça. Aqui estão alguns dos textos que foram apresentados no V Colóquio Luso-Brasileiro de Ética e Filosofia Política, cujo tema foi “Caminhos da Justiça - Diálogos Contemporâneos”, realizado entre os dias 29 e 30 de julho de 2024, na Sala 131 do Colégio do Espírito Santo, na Universidade de Évora, em Portugal. Esse colóquio é organizado anualmente e em 2024 consolidou uma parceria muito fortuita entre o PRAXIS - Centro de Filosofia, Política e Cultura, o Instituto de Investigação e Formação Avançada da Universidade de Évora, o Programa de Pós-Graduação em Filosofia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná e o Centro Hans Jonas Brasil, com o apoio da FCT. Nessa ocasião, diferentes pesquisadores e pesquisadoras do Brasil e de Portugal tiveram oportunidade de apresentar e discutir suas pesquisas em um clima fraterno e amigo, como é adequado quando se fala de um evento filosófico. O pensamento, além disso, foi favorecido pela acolhida dos colegas de Évora, pelo encanto da cidade e pelo ambiente daquela universidade, cujos famosos azulejos remontam ao século XVIII e traduzem com imagens o que é a vida universitária e o espírito desse colóquio: um lugar de estudo e produção do conhecimento na forma de um diálogo rigoroso e bemintencionado.</p>Francisco Verardi Bocca, Jelson R. de Oliveira, Grégori de Souza
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https://revistas.dwwe.com.br:443/index.php/NH/article/view/1150Mon, 18 Aug 2025 00:00:00 -0300Resenha do livro Potências da suavidade
https://revistas.dwwe.com.br:443/index.php/NH/article/view/1104
<p class="Standard" style="text-align: justify; line-height: 150%;"><span style="font-family: 'Arial',sans-serif;">Resenha da obra </span><em><span style="font-family: 'Arial',sans-serif;">Potências da suavidade, </span></em><span style="font-family: 'Arial',sans-serif;">de </span><span style="font-family: 'Arial',sans-serif;">Anne Dufourmantelle. Tradução: Hortencia Lencastre. São Paulo: n-1 edições, 2022.</span></p>Laura B. Moosburger
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https://revistas.dwwe.com.br:443/index.php/NH/article/view/1104Tue, 19 Aug 2025 00:00:00 -0300