Por uma ética da precariedade: sobre o traço ético de Ser e tempo

Autores/as

  • André Duarte universidade federal do parana

Resumen

Heidegger jamais considerou Ser e tempo como uma investigação ética nem dedicou qualquer de suas obras à discussão específica dessa questão, aspecto que vem sendo criticado como sintoma de uma insidiosa precariedade ética instalada no coração de sua reflexão ontológica. A crítica recorrente afirma que, em Ser e tempo, Heidegger teria inviabilizado a reflexão ética ao comprometer-se com o "solipsismo existencial", isto é, com o isolamento do "si-mesmo decidido" em relação aos outros, desconsiderando, ainda, a exigência de uma fundamentação última da ação ética. O argumento deste texto considera que Ser e tempo não configura um tratado ético no sentido metafísico tradicional, mas traz consigo os elementos teóricos para a sua reavaliação pós-metafísica ao dar ensejo a uma ética da precariedade. Uma ética da precariedade é desprovida de fundamentos últimos ou procedimentos intersubjetivos capazes de assegurar critérios transcendentais infalíveis de validação da qualidade ética da conduta humana, pois se assenta no reconhecimento da finitude constitutiva do Dasein. A consideração do "ser-para-a-morte" como o "modo de ser mais próprio" do Dasein não implica a irresponsabilidade ética para com os outros, mas tem como seu aspecto positivo a liberação da amizade como o modo próprio da relação ética, inspirando um agir cauteloso e resistente a quaisquer sistemas teóricos que definam padrões últimos quanto à moralidade do agir. Palavras-chave: Heidegger, Ética pós-metafísica, Ontologia fundamental, Alteridade.

Publicado

2024-05-17

Cómo citar

Duarte, A. (2024). Por uma ética da precariedade: sobre o traço ético de Ser e tempo. Natureza Humana - Revista Internacional De Filosofia E Psicanálise, 2(1), 71–101. Recuperado a partir de https://revistas.dwwe.com.br:443/index.php/NH/article/view/741