A crítica de Heidegger a Freud: quando o acesso mais originário à realidade não requisita representação
DOI:
https://doi.org/10.59539/1679-432X-v1n1-605Palavras-chave:
Heidegger; psicanálise; realidade.Resumo
Nos Seminários de Zollikon, Heidegger afirma a necessidade de gestação de uma ciência do psíquico que conceba o homem – sua saúde e sua doença – sem reduzi-lo a uma mente que representa, a um aparelho gerador desintomas, a um objeto causalmente explicável. Ao lançar esse desafio, a filosofia heideggeriana esbarra-se com aconsolidada psicanálise freudiana, denunciando-a como devedora da metafísica moderna, uma vez que sua concepção de homem como aparelho psíquico regido por pulsões estabelece a representação como única forma deacesso à realidade, objetifica a vida humana, reduzindo-a a um campo de forças físico-matemáticas. Heidegger,então, reivindica a possibilidade de uma "ciência do homem" irredutível ao discurso objetificante. Em nossacomunicação, visamos tanto a apontar que a psicanálise freudiana não contempla o existir humano em seus modosnão-objetificantes de lidar com a realidade, quanto a indicar que encontramos essa possibilidade na teoria doamadurecimento de Winnicott.Referências
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