Tendência antissocial e novos diagnósticos: a medicalização como alternativa às falhas do ambiente

Autores

DOI:

https://doi.org/10.59539/1679-432X-v5n2-1200

Palavras-chave:

tendência antissocial; TDAH; medicalização; cuidado; valor de incômodo.

Resumo

A proposta deste trabalho é discutir a tendência atual da psiquiatria e da neurologia de estipular novos diagnósticos para abarcar expressões de tendência antissocial, desde a infância mais primitiva, levando à medicalização e ao tratamento medicamentoso como a conduta de “cuidado” mais adequada. Outros recursos demandam tempo, paciência, envolvimento, empenho, modificação de projetos pessoais, institucionais e discussões teóricas. Ao se eliminar o incômodo medicando os sintomas, elimina-se também a possibilidade de uma compreensão da situação diagnosticada como uma tendência antissocial, sua origem, seu tratamento e possibilidades de prevenção, bem como a compreensão da psicopatologia subjacente, quando houver. Ao se referir à tendência antissocial de um indivíduo, não como um diagnóstico, mas sendo encontrada junto a uma psicose, ou a uma neurose, ou mesmo junto à normalidade, Winnicott reconhece, na origem dessa tendência, certo grau de deprivação que poderia ser tratada por cuidados oferecidos pelo ambiente. Destaca ainda o “valor de incômodo” dos sintomas como um indicativo dessa tendência, que tem em si a esperança de que enfim a necessidade desse indivíduo possa ser compreendida e atendida.

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Publicado

2010-10-02

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Artigos