À força de padecer: considerações sobre a dor como experiência ontológica

Autores

  • Irene Borges-Duarte Universidade de Évora

DOI:

https://doi.org/10.17648/2175-2834-v21n2-406

Resumo

A dor e o sofrimento têm tido, ao longo da história, um lugar especial no âmbito da filosofiaprática. Do ponto de vista do cuidado de si, são aquilo que a moral grega procura evitar, com aracionalidade da conduta orientada para a eudaimonia. Do ponto de vista cristão, têm um papelredentor no caminho para vencer o terrenal. Em ambos os casos, são marca e sintoma do que hoje chamamos condição antropológica: sofrer é ser vulnerável à dor e à morte, quer própria quer alheia. Nesse sentido, a vulnerabilidade impregna a existência do ser humano e é susceptível de abordagens positivas e epistemológicas. No entanto, de um ponto de vista fenomenológico, é a experiência da dor, nos seus abismos e ápices, que revela esse modo de ser em que o ente humano se encontra com a sua pele ontológica: com o limite do seu ser, em que soma e psyche se não distinguem. É essa experiência ontológica do limite que vou procurar abordar, num contexto em que a fenomenologia e a psicanálise se tocam, e se diferenciam aspectos existenciais, culturais e cognitivos.

Referências

Borges-Duarte, I. (2017). Mesura e desmesura em Heidegger. O ponto de vista ético. Studia Heideggeriana, 6, 65-102.

Damásio, A. (1999). The feeling of what happens. Body, emotion and the making of conciousness. London: Vintage.

Dias, E. O. (2011). Sobre a confiabilidade e outros estudos. São Paulo: DWW editorial.

García-Baró, M. (2012). El dolor no enseña siempre. Crítica, 981, 27-31.

Fulgencio, L. (2004). A noção de trauma em Freud e Winnicott. Natureza Humana 6(2), 255-270.

Freud, S. (1893). Acerca do mecanismo psíquico dos fenômenos histéricos. In J. Strachey (ed.), Estudos sobre a histeria (Edição Standard das Obras Completas de Sigmund Freud, vol 2, pp. 43 ss). Rio de Janeiro: Imago, 1996. [Na Standard Edition of the Complete Psychological Works of Sigmund Freud, Ed. J. Strachey et al. (v. 2, pp. 3-17), London: The Hogarth Press.]

Heidegger, M. (1995). Felweg-Gespräche. In Gesamtausgabe (Bd. 77, I. Schüssler, Hg.). Frankfurt: Klostermann.

Heidegger, M. (2009). Das Ereignis. In Gesamtausgabe (Bd.71, F.-W.von Herrmann, Hg.).Frankfurt: Klostermann.

Heidegger, M. (2013). Zum Ereignis-Denken. In Gesamtausgabe (Bd. 73.1, P. Trawny, Hg.).Frankfurt: Klostermann.

Heidegger, M. (2015). Anmerkungen I-V (Schwarze Hefte 1942-1948). In Gesamtausgabe (Bd. 97, P. Trawny, Hg.). Frankfurt: Klostermann.

Heidegger, M. (2017/2018). Über den Schmerz (D. Koch & K. Neubauer, Hg.). Stuttgat: Heidegger-Gesellschaft.

Jünger, E. (1934). Sobre el dolor (A. Sánchez Pascoal, trad.). Barcelona: Tusquets. 1995.[Über den Schmerz [1934], In Sämtliche Werke (v. 7, pp. 143-191). Stuttgart: KlettCotta, 1980.]

Loparic, Z. (2006). De Freud a Winnicott: aspectos de uma mudança paradigmática. Winnicott e-prints, 1(1), 1-29.

Musset, A. (2013). La Nuit d’Octobre. [s/l]: Editions la Bibliothèque Digitale.

Serrano de Haro, A. (2012). Elementos para una ordenación fenomenológica de las experiencias aflictivas. Anuario Filosófico, 45(1), 121-144.

Trilles, K. (2017). Intencionalidad y dolor. In Borges-Duarte, Sylla & Casanova (orgs.), Fenomenologia hoje VI. Intencionalidade e cuidado (pp. 203-215). Rio de Janeiro: Via Verita.

Winnicott, D. W. (1989). Psycho-Analytic Explorations. Londres: Karnac Books.

Downloads

Publicado

2019-12-03

Como Citar

Borges-Duarte, I. (2019). À força de padecer: considerações sobre a dor como experiência ontológica. Natureza Humana - Revista Internacional De Filosofia E Psicanálise, 21(2). https://doi.org/10.17648/2175-2834-v21n2-406