O valor da não-comunicação: brincadeira de esconde-esconde/The value of not communicating: hide-and-seek play

Autores

  • Decio Gurfinkel

DOI:

https://doi.org/10.59539/1679-432X-v9n2-67

Resumo

Resumo Este trabalho pretende colocar em relevo o valor da não-comunicação, assim como a importância da dialética “estar só”/“estar com”, própria da brincadeira de esconde-esconde. Winnicott sugeriu que muitos adolescentes não gostam dos psicanalistas, pois aqueles se irritam com a ameaça de invasão de seu espaço privado e preferem um diário secreto. É estranho como nos dias de hoje assistimos a uma paixão dos adolescentes por uma conectividade ininterrupta, agitada e veloz, com pouco espaço para as pausas, os silêncios e o espaço de segredo. Como entender então essa aparente contradição? Podemos considerar que a modalidade de comunicação incessante e compulsiva que predomina em nossa cultura assemelha-se à defesa maníaca na qual um falso-self está sempre buscando os movimentos agitados e ascendentes, sem lugar para o pouso e a queda, evitando, assim, a experiência depressiva e furtando-se ao viver criativo e ao “tempo do sonhar”? Ainda há lugar no mundo de hoje para um Salinger ou um Proust? Palavras-chave: comunicação; adolescência; artistas; segredo; repouso.Abstract This paper intends to put in relief the value of not communicating, as well as the importance of the dialectic “being alone”/”be with” as we see in hide-and-seek play. Winnicott suggested that many adolescents don’t like psychoanalysts: they get irritated with the threat of invasion of their private space, and prefer a secret diary. It’s strange how nowadays we observe a passion of adolescents of a fast and uninterrupted connectivity, with little opportunity for pauses, silence, and a secret space. How can we understand this apparent contradiction? Can we consider that the incessant and compulsive communication mode that prevails in our culture resembles the maniac defence in which a false self is always seeking restless and ascendants movements, without opportunity for landing and falls, thus avoiding the experience of depression and also of living creatively and dreaming? Is there still a place in today’s world for a Salinger or a Proust? Keywords: communication; adolescence; artists; secret; rest.

Referências

Auster, P. (2004). A invenção da solidão. São Paulo: Companhia das Letras. (Trabalho original publicado em 1982)

Baudelaire, C. (2006). Pequenos poemas em prosa. Rio de Janeiro: Record.

Coelho, M. (2014, maio 11) O fim do mundo epistolar: o que perdemos ao abrir mão das cartas?. Folha de S.Paulo, pp. 4-5.

Ellsworth-Jones, W. (2013). Banksy: por trás das paredes. Curitiba: Nossa Cultura.

Gurfinkel, D. (2008). Sonhar, dormir e psicanalisar: viagens ao informe. São Paulo: Escuta.

Khan, M. (1989) On Lying Fallow. In M. Khan, Hidden selves: between theory and practice in psychoanalysis. Londres: Karnak Books. (Trabalho original publicado em 1977).

Rodrigues, A. (2013, novembro 3) Os mitos da caverna: uma espiadinha na reclusão de Salinger & Co. Folha de S.Paulo, p. 3.

Winnicott, D. W. (1992) Mind and its relatiosn to the psycho-soma. In D. Winnicott, Through paediatrics to psychoanalysis: collected papers. London: Karnac. (Trabalho original publicado em 1954a[1949])

Winnicott, D. W. (1990) Communicating and not communicating leading to a study of certain opposites. In D. Winnicott, The maturational processes and the facilitating environment. London: Karnac. (Trabalho original publicado em 1965j[1963])

Downloads

Publicado

2014-06-01

Edição

Seção

Artigos